15/06/2023
Faperj
Claudia Jurberg
O professor Rodrigo Soares Moura Neto (à esq.) e a equipe responsável pelo estudo: descoberta pode abrir caminho para a produção legal de canabidiol no País |
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificou canabidiol nos frutos e flores da Trema micrantha Blume, uma espécie nativa da flora brasileira pertencente à família Cannabaceae.
Na cultura popular, as folhas da espécie já são utilizadas no tratamento de erupções cutâneas devido ao seu poder analgésico. E a descoberta agora de canabidiol (CDB) nos frutos e flores abre portas para o tratamento de distúrbios neurodegenerativos, psiquiátricos, além do alívio da dor neuropática e no tratamento analgésico adjuvante do câncer em estágio avançado, sem as barreiras impostas pela legislação brasileira.
Apesar da expansão do uso medicinal do canabidiol em países como Estados Unidos, Canadá, Portugal, ainda há muita resistência no Brasil, e o Poder Judiciário tem atuado na concessão de medidas liminares para a importação do CBD, enquanto o Congresso Nacional discute se libera ou não o uso medicinal da substância.
A legislação brasileira não permite o crescimento da planta Cannabis sativa (nome científico da maconha) em território brasileiro, nem o uso medicinal, tornando-a ilícita por conta do THC, a droga psicoativa de uso recreativo e que causa euforia.
Em análises preliminares, na Trema micrantha não foi encontrado THC nas folhas, flores ou frutos, o que a torna ideal para a sua utilização como fonte medicinal de canabidiol. Além disso, é uma planta recomendada para uso de reflorestamento.
O pesquisador Rodrigo Soares Moura Neto conta que cientistas estrangeiros já tinham descrito canabinóides na Trema orientale Blume – uma planta da mesma família, mas que não é nativa do País. Para ele, a proposta de identificar na flora brasileira alternativas legais para a produção de canabidiol e outros compostos bioativos com finalidade medicinal pode representar a oportunidade de elaboração de tratamentos eficazes e de baixo custo.
Moura Neto: pesquisador está à frente de projeto que busca o conhecimento e uso adequado de fitoterápicos da flora brasileira |
“A flora brasileira é muito diversa e rica em substâncias bioativas, porém, apenas uma pequena fração das suas potencialidades é utilizada para pesquisa e desenvolvimento de medicamentos. Neste projeto, queremos testar protocolos, rendimento e extração dessa planta, a partir da caracterização genética de suas variantes, a descrição de seus componentes e concentrações presentes, e testar as propriedades e toxicidade em cultura de células, atividade antimicrobiana e antifúngica”, diz.
De acordo com Moura Neto, o projeto busca o conhecimento e uso adequado de fitoterápicos da flora brasileira, incluindo uma alternativa de planta nativa como fonte de produção de CBD, de interesse público e financeiro para a sociedade, pois, como destaca ele, já há algum tempo uma tendencia de alta no mercado no uso medicinal de canabidiol. O pesquisador ressalta assim o impacto econômico e social que o desenvolvimento de futura produção de CBD por recursos naturais e tecnologia brasileiras podem representar para o País e sua capacidade agrícola.
Moura Neto foi agraciado neste projeto com recursos no valor de R$ 500 mil, dentro do programa Apoio a Projetos Científicos e Tecnológios em Ciências Agrárias no Estado do Rio de Janeiro.
O canabidiol é uma das mais de 400 substâncias químicas encontrada na Canabis sativa, e chega a representar 40% de seus extratos. Porém, na Canabis, além do CBD, há o THC, que por conta dos efeitos de euforia, tem seu uso restrito. Encontrar uma alternativa brasileira para extração de CBD e sem THC pode representar uma conquista para medicina e um salto econômico para o País.