24/08/2022
Fiocruz
Um estudo da Fiocruz Minas constatou que a vitamina B12 regula processos inflamatórios que, durante a infecção pelo vírus Sars-CoV-2, se encontram desregulados e levam ao agravamento da Covid-19. A pesquisa comparou amostras de sangue de pacientes hospitalizados com as formas grave e moderada da doença com amostras de sangue de pessoas saudáveis -voluntários sem Covid-19-, analisando a expressão de todos os genes pelas células de defesa, os leucócitos, em cada um dos grupos. As análises mostraram que os pacientes com Covid tinham expressão alterada de muitos genes, embora estivessem em tratamento com corticoides há cerca de 11 dias. Com a introdução da vitamina B12, a expressão dos genes inflamatórios e de resposta antiviral dos pacientes se aproximou à dos indivíduos saudáveis, mostrando a eficácia da vitamina para o controle da inflamação.
Segundo o estudo, a B12 atenua um quadro conhecido como tempestade inflamatória, causado por uma resposta imune excessiva do organismo. A B12 atua, então, como um regulador desse evento, ao aumentar a produção da molécula doadora universal de uma substância chamada metil, capaz de desativar genes que favorecem a inflamação.
“A B12 aumenta o fluxo da via de aminoácidos sulfurados, favorecendo a produção do doador universal do metil. Com isso, temos uma maior capacidade de metilação das células, que leva à hipermetilação de regiões reguladoras de genes pró-inflamatórios. Essa hipermetilação impede a expressão de genes inflamatórios, atenuando a inflamação. É como se tivéssemos um trilho de trem e colocássemos muitos obstáculos nesse trilho para impedir a passagem do trem. No nosso caso, a linha férrea seria o gene, os obstáculos seriam o metil, e o trem seria a máquina enzimática que nossa célula usa para fazer a leitura do DNA. Ou seja, quanto mais metil nos genes, menos a máquina enzimática consegue expressar os genes inflamatórios e, com isso, é possível controlar a inflamação”, explica o pesquisador Roney Coimbra, coordenador do estudo.
Estudos anteriores haviam demonstrado que a Covid-19 afeta a metilação dos genes inflamatórios dos leucócitos. Esta pesquisa da Fiocruz Minas mostra, de forma pioneira, que é possível atuar na regulação desse processo fundamental para a regulação da atividade dos genes por meio de fármacos, no caso, a vitamina B12.
Para verificar a segurança da B12, a equipe da pesquisa introduziu o tratamento com a vitamina nas amostras de indivíduos saudáveis e constatou que não houve nenhuma alteração nos níveis de expressão dos genes avaliados. Isso mostra a segurança do tratamento, ao atestar a não toxidade da B12, e comprova a eficiência da vitamina especificamente para a regulação dos genes com expressão alterada na Covid-19.
“É importante destacar que, antes que a B12 possa ser usada com segurança para o tratamento dos pacientes com Covid-19, ainda é necessária a realização de um estudo clínico, ou seja, diretamente no organismo humano. Deve-se ressaltar também que não adianta tomar a vitamina por conta própria, como medida de prevenção, uma vez que nosso estudo só constatou a eficiência da B12 para a normalização de processos inflamatórios alterados pela doença”, destaca o pesquisador.
A pesquisa foi realizada em parceria com o Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, localizado em Belo Horizonte, onde foram recrutados os pacientes para o fornecimento das amostras, além dos dados clínicos e laboratoriais necessários para as análises. O estudo contou ainda com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Todos os dados gerados pela pesquisa foram publicados em um artigo, em formato ainda em preprint, enquanto se aguarda o processo de revisão pelos pares que antecede a publicação da versão definitiva.